Dias atrás, à procura de imagens no YouTube, cliquei em um vídeo que eu já assisti várias vezes. Provavelmente você também já assistiu este vídeo, que é conhecido como “Protetor Solar”, ou “Todo Mundo é Livre (use protetor solar)”. É uma narração, um hipotético homem já avançado em idade dá conselhos sobre como viver uma vida mais feliz. O vídeo é antigo, bonito e você pode conferir ao final desse artigo. Na versão em português, o mesmo é narrado pelo jornalista Pedro Bial.
Entre todas as frases inspiradoras do texto narrado, há uma parte que sempre me chamou atenção: “More uma vez em Nova Iorque, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas vá embora antes de amolecer”. (Texto original: “Live in New York City once, but leave before it makes you hard. Live in Northern California once, but leaves before it makes you soft”). Vou estender um pouco a região geográfica e parafrasear: “Viva em um país desenvolvido, mas vá embora antes de ficar muito acomodado. Viva em um país em desenvolvimento para lembrar o que realmente importa na vida”.
Há algumas semanas, um amigo, que vive em Nova York há alguns anos, me ligou pedindo dicas para fazer um vídeo documentário na Tailândia. Eu brinquei com ele: “Cara, para de viver em Nova Iorque, e vai viver em um país em desenvolvimento para se lembrar do que é a vida de verdade!”. Ele me respondeu: “Mas é esta a razão porque eu quero ir aí fazer este documentário! A vida aqui nos faz muito superficiais depois de algum tempo”.
Não, eu não sou contra viver em Nova Iorque, ou em qualquer outro lugar rico. Eu também não estou dizendo que a vida nos países ricos não pode ser difícil. Mas a razão pela qual as pessoas estão correndo para viver nesses países pode se tornar muito superficial.
Nunca vivi em um país rico, pelo menos até agora. Mas viajei para alguns deles e agora estou morando no meu terceiro país em desenvolvimento. Eu sou de um país em desenvolvimento, o Brasil. Vivi no Líbano, e agora estou na Tailândia.

O que posso dizer sobre essa pequena experiência é que você pode realmente encontrar a felicidade comprando uma manga no Líbano, porque elas são raras e caras; ou você pode desenvolver suas habilidades em andar em labirintos, já que as ruas não são organizadas de modo algum. Você pode se sentir abençoado por chegar ao seu destino em um ônibus no Brasil, já que, em geral, o transporte público é mais velho do que o seu avô, e as ruas tem mais buracos do que um queijo suíço (e mesmo assim as pessoas conseguem “aproveitar a viagem”, e dormir durante a mesma); você também aprende que independente de quão ruim está a economia, quão corruptos são os políticos, ou se o seu país perdeu a Copa do Mundo, quando o samba toca, você dança!

Você se torna menos exigente na Tailândia quando vai a feira eos gatos estão passeando entre o alimento, onde lagartos são quase parte de sua família, e o banheiro tem um “conceito diferente” na Ásia.
Um dos ensinamentos mais fortes de um país em desenvolvimento é aprender a ter FÉ. Porque quando você não tem coisas, você tem fé. Em uma viagem de Paris a Genebra, em um desses sofisticados trens europeus, conheci um padre francês que trabalhou por dez anos no interior do Brasil durante a ditadura militar. Ele disse que a diferença entre brasileiros e algumas nações européias é que mesmo quando não temos dinheiro, ainda temos fé. Mas se os europeus não tiverem o dinheiro, o que eles têm?

Mais uma vez, este artigo não é contra a vida em países ricos, mas um incentivo para conhecer e experimentar a vida nas nações em desenvolvimento. Eles provavelmente não falarão inglês, o governo é corrupto, a economia é uma porcaria, as dificuldades são enormes, mas pessoas são incríveis! Porque quando você não tem coisas em excesso, você começa a apreciar melhor o que você já tem. E especialmente quem você tem.
Da próxima vez que você estiver planejando viajar, tente escolher um país do terceiro mundo. Eles têm muito a nos ensinar.
> Em uma breve pesquisa na internet, descobri que este vídeo foi “um discurso de formatura pelo colunista Mary Schmich, publicado em Junho de 1997 no Chicago Tribune. O ensaio tornou-se a base para uma bem sucedida canção lançada em 1999 por Baz Luhrmann, “Todo Mundo é Livre (de usar protetor solar)”, também conhecido como “O Protetor Solar Song”. <<